sexta-feira, 1 de março de 2013

COMO ANDA SEU ESTÁGIO DE LICENCIATURA?


Se você é estudante de alguma Licenciatura e é estagiário com necessidade especial, este texto é para você! 
  
Por: Débora Rossini

Sabe-se que estudantes de Licenciatura têm de fazer o Estágio Supervisionado que é obrigatório. O MEC estipula que têm de ser cumpridas 408 horas de atividades relativas a ele durante a graduação - mas a distribuição semestral fica a critério de cada universidade (na universidade em que estudo, para a Licenciatura em Matemática são 4 semestres de 102 h cada, ao passo que tem universidade que coloca, por exemplo, 2 semestres de 204 h cada).
 
Conforme todos sabem, os estagiários têm direitos e deveres. Os deveres estão listados no Termo de Compromisso assinado no início das atividades de estágio - e incluem postura adequada a um ambiente de trabalho, pontualidade, assiduidade, sigilo de tudo o que acontece no ambiente de estágio (similar ao sigilo profissional de diversas ocupações de trabalho), ética e respeito , dentre outros. 
 
Entre os DIREITOS, é só dar uma “googlada” que você encontra aí. (Exemplos: a compatibilidade de horário com os estudos e o não-prejuízo destes; seguro do estudante contra acidentes, que a universidade deve fornecer; dentre outros.) No entanto, fiquei pensativa: e quais são os direitos específicos do ESTAGIÁRIO COM NECESSIDADES ESPECIAIS quando fazem disciplinas de estágio obrigatório de Licenciatura????

Procurei no Google, e achei alguns direitos que amparam o estagiário com deficiência - mas sem distinção entre o estágio de licenciatura (em escolas de ensino regular) e os estágios feitos por estudantes de bacharelado (normalmente, em empresas, repartições públicas, etc.) Por exemplo: um estagiário, normalmente, pode estagiar no mesmo local no máximo por 2 anos - mas o estagiário com deficiência , segundo o que vi na internet, pode pedir prorrogação deste prazo (já que ele costuma, na PRÁTICA, ter mais dificuldades em conseguir vaga em outro lugar, possui mais especificidades de acessibilidade, costuma ter maior "trabalho" ao se ambientar em um novo lugar devido às suas limitações, pode haver problemas de locomoção, etc.) Além do mais, todo local que oferece vagas para estágio É OBRIGADO a ofertar 10% delas a pessoas com deficiência na época de inscrições.

 
Fiquei pensativa sobre o assunto, e gostaria imensamente de saber se isso se aplica aos estágios de licenciatura em escolas. (TOMARA QUE SIM!!!!) Algum leitor aí sabe?

 Se você tem necessidades especiais e tá precisando de fazer essas disciplinas obrigatórias de estágio em escolas de Ensino Fundamental e Médio, leve estas ideias para o professor responsável por elas na faculdade, para o coordenador de estágios, e para o coordenador de curso da sua graduação. Elas são extremamente úteis a meu ver, pois:

-- como todo mundo sabe, o ambiente de sala de aula da Educação Básica, repleto de estudantes , digamos, "cheios de energia", oferece uma certa vulnerabilidade para o estagiário com necessidades especiais!!! Se o estagiário com deficiência sentiu-se melhor em uma determinada escola ao realizar o estágio (devido à estrutura, o perfil dos alunos, o fato de ter como "tutor" um professor regente que já o conhece e sabe como lidar com ele, já facilita E MUITO o andamento das atividades), então, por que insistir forçosamente em trocá-lo de estabelecimento sem motivo relevante? Há Colegiados de Cursos e Câmaras de Estágios que recomendam ou estabelecem que os estagiários troquem de escola periodicamente, para conhecerem realidades diferentes, o que, de acordo com os objetivos da disciplina, a princípio é válido - mas, para um estudante com deficiência, que é cheio de especificidades e vulnerabilidades, seria interessante ter uma flexibilização nessa regra... até porque, quando este futuro professor for trabalhar, ele vai escolher um estabelecimento que encaixe melhor nas suas limitações e habilidades, não é verdade? :-)

--Em caso de estagiário com deficiência considerada acentuada (ex: deficiência visual ou auditiva ou locomotora graves), seria interessante a possibilidade de a universidade enviar um acompanhante, oriundo da universidade, para auxiliar o estudante-estagiário com deficiência e garantir-lhe maior integridade física. Afinal, do jeito em que está a realidade nas escolas hoje, corre-se o risco de algum aluno da escola do estágio aproveitar da vulnerabilidade do estagiário e agir com má-fé, causando-lhe transtornos... :-( 

 
BOA NOTÍCIA: Já foi me relatado um caso em que um estagiário cego foi acompanhado pelo seu professor da faculdade, e que a medida foi bem-sucedida. :-)

--Há universidades em que o seguro obrigatório, garantido pela instituição de ensino superior ao estagiário, apenas contempla a questão da integridade FÍSICA PROPRIAMENTE DITA do estagiário (despesas médicas, hospitalares ou seguro pra família dele em caso de falecimento.) No entanto, não contempla segurança de órteses e próteses acopladas ao corpo de um estudante com deficiência (pernas mecânicas, artigos ortopédicos em geral, aparelho de surdez, óculos especiais que sejam raros e caros)!!!!! :-O
E aí? Os equipamentos mencionados têm custo elevado, e são de difícil reposição (não só pelo preço, mas também pela oferta - alguns são importados, e levam muito tempo para ficarem prontos de acordo com a prescrição do paciente). Sem contar que, quem adquire esses equipamentos pelo SUS, demora mais ainda para tê-los (devido aos procedimentos burocráticos que normalmente são feitos para a aquisição de tais apetrechos). Se quebrar, como é que fica a reposição de tais itens - que na verdade acabam por fazer parte da "anatomia" do estagiário com deficiência? Eles fazem falta não só para o andamento das atividades acadêmicas, como também para o próprio dia-a-dia da pessoa que os usa!!!!!! Basta um esbarrão/empurrão de mau-jeito, ou o ato de ser atingido por algum objeto jogado por algum aluno da escola ou alguma agressão física, que... o estagiário, incluindo sua prótese ou órtese de uso contínuo, estão em risco! Se esses equipamentos estragam, o conserto ou nova obtenção ficam INTEIRAMENTE POR CONTA DO ESTAGIÁRIO, PELO VISTO!!!!! :-O :-O


Sugestão: as universidades deveriam tomar providências para que o seguro obrigatório, no caso de estudantes com deficiência, os ampare adequadamente também... ou então tomem medidas paliativas enquanto isso não ocorre - tais como arranjar um acompanhante da universidade para ajudar a minimizar situações que possam danificar a prótese.

(Por exemplo: o estagiário com deficiência está explicando um exercício de matemática para um aluno da escola, e dois outros estão iniciando uma briguinha ali perto. Como é que o estagiário vai se sentir tranquilo em explicar o exercício pro aluno, diante da 'ameaça' de levar um esbarrão a qualquer momento? Ele tem de se "desdobrar" para simultaneamente concentrar em sua tarefa e ter de ficar atento para se proteger para não ter a prótese ou órtese atingida - algo que seria minimizado se ele não tivesse o equipamento... Aí é que entraria o papel do acompanhante - para ficar atento a isso e alertar o estagiário se necessário,deixando-o apenas com a "preocupação" de desempenhar a tarefa. )

Ou então, o professor responsável pela disciplina de Estágio na universidade poderia reduzir, para esse estagiário com limitações comprovadas, o cumprimento de sua carga horária dentro de sala (se ele assim o desejar) - para diminuir a probabilidade matemática de o estagiário ter seu equipamento danificado no local ... substituindo, assim, parte da carga horária que seria cumprida em sala, na escola, por atividades alternativas - tais como atendimentos individuais a alunos, preparação extraclasse de atividades, ou deixá-lo fazer pelo menos uma parte do estágio em centros de apoio educacional (com atendimento individual ou grupos pequenos de alunos) em vez de escolas regulares com 30, 40 alunos por sala!!

Claro que essas sugestões por si sós não resolvem totalmente o problema, mas já ajudam um pouco.

--Em relação à reserva de 10% de vagas em estabelecimentos para estágio, destinadas a estagiários com deficiência, vale a pena verificar se eles valem não só para empresas,mas também para escolas. Converse com o coordenador de seu curso universitário!!!! Veja por que tal medida é bastante útil: se as escolas tiverem 10% de vagas reservadas para estagiários com deficiência, estes podem escolher mais facilmente a escola em que melhor sentem-se adaptados para estagiarem, de acordo com suas limitações e habilidades, bem como a questão do deslocamento até ela, sem ter de "disputar" pelas vagas com os colegas sem deficiência (que, por sua vez, naturalmente, escolherão esta ou aquela escola por questões de comodidade e não de acessibilidade.)

Assim sendo, um estagiário com deficiência, que se sente melhor em uma sala de aula de um colégio particular pequeno (com 15 ou 20 alunos por turma) e que é mais próximo de sua casa ou faculdade, não precisaria de ficar preocupado em perder essa vaga pro colega sem deficiência (e que procura esse estabelecimento apenas para maior comodidade) e ter de enfrentar uma sala de aula com 40 alunos, longe de casa ou faculdade, tendo um trabalhão para se deslocar. 
 
NOTA: Mesmo que o estudante com deficiência não tenha dificuldades físicas de locomoção - tais como deficiência locomotora ou visual grave- há diversos casos em que ele, se for estagiar em uma escola mais distante, vai ter de pegar ônibus. E, dependendo do grau e/ou tipo de deficiência, ele não tem passe-livre ; ou seja, paga passagem para ir e voltar do estágio... e que é muitas vezes cara.
Levando em conta que um estagiário com deficiência já tem , por si só, mais despesas do que um sem deficiência - por causa de troca de próteses/órteses/manutenção de equipamentos auxiliares para o seu dia-a-dia - seria ,mais do que justo, priorizar a vaga perto de casa ou da faculdade para ele, não é? A economia com passagem de ônibus ajudaria a compensar as despesas inerentes às suas necessidades especiais - ou seja, o que ele gastaria com ônibus ele pode juntar para custear novos equipamentos auxiliares, novas tecnologias assistivas, novos aparelhos que necessitem ser trocados ou levados para manutenção periodicamente! (A não ser que ele seja visivelmente "MUITO BOM DE BOLSO", desses de classe social-econômica bem alta, cujas despesas adicionais com transporte - carro, táxi, ônibus, etc - somadas às despesas específicas das suas necessidades especiais não lhe tragam dificuldades financeiras,né??!!! Mas, em se tratando de uma pessoa com o $$$ "contadinho ali" como a maioria de nós, vale a pena considerar o benefício proporcionado por essa prioridade! )

Logo, diante de tudo que foi exposto acima, se você é estagiário com necessidade especial, não perca tempo: mostre esta página a seu professor responsável pela disciplina de Estágio Supervisionado, mostre para o Coordenador de seu curso, mostre para os responsáveis pelo Núcleo de Acessibilidade de sua universidade, e... bata um papo com eles! Troque ideias!!! Discutam soluções ou alternativas de acordo com a realidade da sua universidade!!! Se você realmente gostar de ser estudante universitário de alguma licenciatura, e quiser tirar o máximo proveito de seu curso, corra atrás de direitos que possam turbinar seu desempenho nas atividades curriculares! 
 
E então? O que achou das ideias propostas acima? COMENTE!!! É para trocar ideias mesmo! (Vá que eu esteja enganada em alguma ideia proposta... precisaria então de uns toques aqui para reformular o exposto, né???? ) ;-)