quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Alunos deficientes visuais numa aula de matemática! :-)

 
Leitura em Braille.  (Crédito da foto: [1] )
 
Cubo Mágico em Braille.  (Crédito da foto: [2])
  Segundo Nuno Santos, Cláudia Ventura e Margarida César, no texto online Alunos Cegos nas Aulas de Matemática [3],


"as escolas devem ser capazes de identificar as barreiras que se colocam aos alunos cegos no acesso ao sucesso académico e inclusão social. Batista (2005) relembra que, para os cegos, é importante criar condições para que os obstáculos devidos à falta de visão possam ser diminuídos, criando oportunidades de acesso à participação nos processos de ensino e de aprendizagem. Torna-se, por isso, necessário reflectir sobre as experiências de ensino e de aprendizagem que envolvem alunos cegos. Esta reflexão pode contribuir para identificar as barreiras que estes alunos enfrentam no acesso às ferramentas culturais da matemática e à sua participação em cenários de educação formal."
 
 

Ou seja, o ambiente educativo deve ser favorável à prática de ensino que seja mais adequada às habilidades dos alunos deficientes visuais que possuem bastantes habilidades por meio do tato, audição e formas próprias de mapeamento e orientação espacial, já que não possuem a visão ou possuem em percentagem baixa. Assim sendo, as técnicas de ensino tradicionais devem ser repensadas, de forma que atenda não só aos educandos de visão normal, mas também aqueles que possuem deficiência visual.

Existe, na grafia Braille, o que se chama de Código Matemático Unificado que é a grafia Braille oficial dos símbolos de Matemática empregados desde os conteúdos ministrados na Educaçaõ Básica até a Educação Superior. É importante que o estudante com deficiência visual domine essa escrita e que seus professores também a dominem, a fim de compreenderem o que seus alunos cegos escrevem, a fim de corrigir-lhes os exercícios e provas, acompanhando o aprendizado de seus alunos.

No entanto, é necessário o professor tomar certo cuidado, visto que a escrita Braille e a convencional possuem peculiaridades distintas, em termos de direção de leitura e escrita! Por exemplo, ao ensinar divisão, faz sentido dizermos que o numerador fica em cima e o denominador fica em baixo para um estudante que enxerga e usa a escrita comum... mas é totalmente sem sentido para um estudante cego usuário de Braille! Veja o relato abaixo, extraído do texto de Nuno Santos e outros autores, mencionado no início deste post:



"O primeiro exemplo que identificámos relacionava-se com o estudo dos números fraccionários, no 7.º ano de escolaridade. Uma das alunas cegas chamou-nos, durante a aula, pois na ficha de trabalho havia uma expressão que ela não conseguia compreender. Tratava-se de uma fracção, que os alunos tinham estudado anteriormente. Acontece que esta aluna tinha apropriado e interiorizado o conceito de numerador como o número que está em cima e de denominador como o número que está em baixo, o que não é o correcto na GMB, em que as posições destes dois conceitos são as opostas. No sentido de evitar confusões com outros símbolos já existentes, definiu-se que o numerador numa fracção aparece ligeiramente descido, ao passo que o denominador se mantém na mesma posição o que, em termos relativos, corresponde a estar representado mais alto."
 

Tem também esse relato aqui, feito pelos mesmos autores:



"Uma das alunas cegas que acompanhámos, enquanto professores de apoio, no 8.º ano de escolaridade, manifestou a sua indignação por não conseguir acertar com os procedimentos para a resolução de equações pois, quando a professora perguntava o que deveriam começar por fazer, num exemplo como o anterior, ela respondia, ser necessário desembaraçar de parênteses. Outros colegas diziam que era apenas necessário reduzir ao mesmo denominador. Uma vez que, na escrita a negro, não existiam parênteses, a professora acabava por reforçar a resposta dos restantes colegas. Deixando a aluna cega confusa, sem entender o que a professora e os demais colegas estavam a dizer. O conhecimento da GMB, por parte do professor, permite evitar alguns destes incidentes, que pouco contribuem para a aprendizagem e muito contribuem para formas diversas de exclusão, de não participação nas actividades matemáticas desempenhadas em cenários de sala de aula e, consequentemente, para a desmotivação ou falta de confiança nas capacidades e competências, por parte dos alunos cegos. A escrita das expressões matemáticas numa linha pode ser uma forma adequada de levar os alunos, denominados normovisuais, a compreender melhor o uso dos parênteses e a prioridade das operações. Ao nível do ensino secundário de matemática, este investimento na escrita de expressões com recurso aos parênteses, pode desempenhar um papel importante no estudo de temas como as funções. Nesses anos de escolaridade, os alunos terão de recorrer à calculadora gráfica para escrever as expressões de funções, que muitas vezes se apresentam a negro com numeradores e expoentes, mas cuja escrita na calculadora gráfica obriga a recorrer ao uso de parênteses. Assim se percebe que possa ser importante abordar este assunto na sala de aula, com toda a turma, e qual a importância e impacto que esta abordagem pode ter, ao nível das aprendizagens, para todos os alunos e não apenas para os alunos cegos. É também uma forma de dar a conhecer a diversidade de representações que podemos encontrar na escrita da matemática, que os diversos alunos devem conhecer". 
 
[3]

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